domingo, 16 de março de 2014

A ESCOLARIZAÇÃO DE PESSOAS COM SURDEZ


Ao longo dos anos, surgiram concepções sobre a educação de pessoas com surdez, dando origem a três abordagens: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo. 
Inicialmente, pensou-se em obrigar o surdo a ser oralizado para que fosse reabilitado, pois entendia a surdez como algo que precisava ser corrigido. 
A partir dessa visão que se desenvolveu o Oralismo - filosofia educacional, com o objetivo de fazer o surdo falar. E como citam Alves; Damázio; Ferreira (2010, p.7) “[...] não conseguiram atingir resultados satisfatórios, porque, normalizaram as diferenças, [...] centrando os processos educacionais na visão da reabilitação e naturalização biológica.” 
Posteriormente, surge a Comunicação total - filosofia educacional, que por sua vez, aceitava a pessoa com surdez e buscava recursos para auxiliar o surdo na sua comunicação e interação social. Porém, foi criticada por não considerar a língua de sinais; ao contrário, valorizava a língua oral na medida em que defendia o uso do português sinalizado.
Dessa forma:
[...] deflagraram um processo que não favoreceu o pleno desenvolvimento da pessoa com surdez, por focalizar o domínio das modalidades orais, negando a língua natural desses alunos e provocando perdas consideráveis nos aspectos cognitivos, sócio-afetivos, linguísticos, políticos, culturais e na aprendizagem. (ALVES; DAMÁZIO; FERREIRA, 2010, p.7).
Em contrapartida a essas abordagens, surge o Bilinguismo - filosofia educacional, com a perspectiva de respeitar as necessidades linguísticas do surdo à medida que utiliza a língua de sinais e a língua oral. Tendo assim, a preocupação de considerar a língua natural do aluno (ALVES; DAMÁZIO; FERREIRA, 2010). 
Com isso, passa-se a pensar em educação inclusiva para pessoas com surdez, dando liberdade ao aluno de escolher qual língua quer usar. Também surgem leis para garantir a esse aluno ter acesso, dentro do ambiente escolar, à Língua Brasileira de Sinais e à Língua Portuguesa, preferencialmente na modalidade escrita. Dando também ao surdo o direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE). 
O Atendimento Educacional Especializado (AEE) para aluno com surdez reconhece o direito a uma educação bilíngue em todo o processo educativo. 
O aluno necessita ter um ambiente escolar favorável à aprendizagem, de modo que professores da sala de aula comum e do AEE tenham práticas articuladas. O AEE funciona em três momentos didático-pedagógicos: Atendimento Educacional Especializado em Libras; Atendimento Educacional Especializado de Libras e Atendimento Educacional Especializado de Língua Portuguesa. 
Damázio (2007) cita que: “O trabalho pedagógico com os alunos com surdez nas escolas comuns, deve ser desenvolvido em um ambiente bilíngüe, ou seja, em um espaço em que se utilize a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa.” Além disso, fala da importância do Atendimento Educacional Especializado para esses alunos, o qual envolve três momentos:
ü Momento do Atendimento Educacional Especializado em Libras, onde são trabalhados em Língua de Sinais, os conteúdos curriculares da escola comum todos os dias, por um professor, preferencialmente surdo. Para que o aluno possa apropriar-se melhor das temáticas abordadas na sala de aula.
ü Momento do Atendimento Educacional Especializado de Libras, onde deve ser feito primeiramente uma análise do conhecimento prévio do aluno em relação à Libras, para que a partir disso o professor e/ou instrutor de Libras (preferencialmente surdo) possa planejar as aulas de Libras, dando ao aluno a oportunidade de ampliar o conhecimento que possui sobre esta língua, principalmente em relação aos termos científicos.
ü Momento do Atendimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa, ministrado todos os dias, preferencialmente por um professor de Língua Portuguesa, sendo feito também análise do conhecimento prévio do aluno em relação a esta língua para a partir daí o docente planejar como serão trabalhadas tais especificidades com o aluno surdo, na modalidade escrita.
Vale destacar que o trabalho do Atendimento Educacional Especializado deve ser desenvolvido em parceria com os professores da sala de aula comum. Sendo que o planejamento deve ser elaborado por todos estes profissionais, além do professor de Língua Portuguesa para pessoas com surdez. Dessa forma, podem-se definir com maior coerência quais os assuntos a serem trabalhados e quais os materiais e recursos a serem utilizados de maneira mais adequada para o entendimento do aluno surdo, respeitando, é claro, as suas peculiaridades.


REFERÊNCIAS

ALVES, Carla Barbosa; DAMÁZIO, Mirlene Macedo; FERREIRA, Josimário de Paula. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar: abordagem bilíngue na escolarizaçãode pessoas com surdez. Brasília: MEC/SEESP. Fortaleza, UFC, 2010.


DAMÁZIO, Mirlene F. M. Atendimento Educacional Especializado: Pessoa com surdez. Curitiba: CROMOS, 2007. p. 25-52.